Livro | A Travessia | 1994 | Cormac Mccarthy
Parte I: Dava um livro em si. Que coisa maravilhosa. A caça à loba, o encontro com ela na armadilha, o encontro com o caminhoneiro, a decisão de leva-la para o México, a viagem e os personagens no caminho, a dolorosa captura dela para o circo e depois para a rinha, a cena do sacrifício, ele levando o corpo morto dela para fora da cidade e o lamento. Que coisa absolutamente linda, Billy, Bird e a Loba. Se essa primeira parte fosse um livro em si, estaria no meu top da vida
Parte II: Cai um pouco, mas não tinha como ser diferente. Alguns diálogos ficam profundos demais para as ocasiões, e claramente são cenas criadas e aproveitadas para a discussão metafísica da condição humana, etc. Ainda assim, a historia conversa bem consigo mesma, e o lento aumento do grupo que segue com Billy e Bird é interessante, com boas cenas. Viajam agora com eles Boyd, Keno, o cão mudo e a jovem mexicana
Parte III: O fim da etapa anterior, na minha leitura, encerra a característica de Romance de Formação que, na minha visão, marcava fortemente a história. Agora, parece um romance de velho oeste. Mais, e eu acho que é isso mesmo, uma katabasis, uma descida ao Inferno. Mas o Inferno parece grande demais, com todas as criaturas que moram nele. Como el chupador de ojos, a "gêmea" de Boyd, cuja original morreu, as histórias de vidas passadas. E é interessante como Boyd vai se tornando o herói do povo, e nós estamos sempre com Billy. No final realmente me deixou sem saber o que esperar da parte derradeira, pois o irmão o abandona, e Billy começa a vagar absolutamente perdido
Parte IV: O vagar de Billy parece um limbo, ele não consegue sair. Implora pra ir para a guerra e não consegue. Resolve, então, voltar ao México, com o argumento de ir buscar o irmão. E, como o índio alertou no começo, ele não conseguiu mais parar de vagar. Morreu a loba na primeira viagem, os cavalos na segunda, o irmão na terceira. Na volta, sem mais nenhuma direção, ele foi visitado pelo alter ego canino, destruído, abandonado, e o expulsou, o desabrigou, assim como o mundo fez com ele. Em contraste com a relação que criou com a Loba na primeira parte, agora ele repele o animal. Ele não conseguiu sair do limbo, e talvez não vá conseguir nunca.
(eu acabei de saber q ele volta no livro III, Cidades da Planície, mas também descobri que não está disponível para a kindle)