Paledriver

Livro | Brancura | 2023 | Jon Fosse

Então. Eu tenho muito interesse pelos autores do absurdo, que exploram a incomunicabilidade, a repetição irracional, a incompreensão, e o fazem utilizando também uma manipulação da estrutura narrativa. Então eu amo Camus, mas também tenho muito interesse pelo Lynch e gostaria de conhecer mais Beckett. Na medida em que a união de estrutura narrativa e conteúdos conseguem trazer esse incômodo, trazem também uma sensação. Uma sensação que não é oferecida mastigada, quando lemos e sabemos que aquilo deve ser engraçado ou triste ou sexy ou etc. Mas você vai lendo e aqui vai coçando e você que tem que se observar e entender o que aquilo está trazendo. Em geral, isso leva totalmente ao abstrato, seja em que mídia for. Mas tem essa galera que busca isso na literatura, e me interessa. Daí que obviamente Fosse me interessou, alguém que aliás só conheci porque ganhou o Nobel mas aparntemente já era grandão. Ele não só trabalhava nesse campo, como ainda buscava trazer a forma para o ritmo da oração, do hipnótico. Então fui de Brancura. Eu gostei muito do formato. Curto, fluxo de consciência, 1ª pessoa imediata como se 3ª pessoa fosse, protagonista que é mera função, sem história ou psicologia (só temos um cheiro disso, porque ele cita por alto que está entediado, mas não há causa & efeito explanados, ou seja, nada possui justificativa e previsibilidade). Assim, tudo é imediato, como se sem uma narrativa em si, é uma pessoa e suas impressões e pensamentos. Tudo é ação, quando desde as primeiras linhas sabemos que o final ou é trágico ou é transcendente. Dito tudo isso, acabou ficou um pouco "chato", na medida em que ele circulava ao redor de poucos elementos externos (bom, é um livro de pouquíssimas páginas). Então eu fiquei com esse gosto agridoce. A minha chave de interpretação é que nós estávamos dentro de um pesadelo, da maneira em que vivencia-se um pesadelo. E, nesse sentido, é uma experiência válida a leitura.