Paledriver

Livro | Meridiano de Sangue | 1985 | Cormac McCarthy

Ler épicos é sempre uma experiência diferente. Meridiano me lembrou da leitura de Musashi, e dizem que o sentimento em Moby Dick é semelhante. As viagens com descrições, os diálogos pacientes, o espaço aberto. Tolkien disfarça isso no Senhor dos Anéis com vários arcos simultâneos e com um worldbuilding cheio de contação de histórias do passado. Os épicos cujo herói testemunhamos um claro bildungsroman, e não acho que seja exatamente o caso do Frodo, demandam um postura de leitura diferente. Meridiano estava me perdendo na primeira metade porque eu não estava preparado para esta viagem paciente. Depois eu peguei o ritmo de McCarthy (aqui dando bem mais espaço para digressão do que em No Country e A Estrada), aí eu fiquei muito impactado pelo livro.

Meses de viagem no deserto e fogueiras e fome e sede e desconfiança, e de repente algumas horas de pura carnificina. Maldades indescritíveis sem nenhuma chance de negociação, apenas o Mal como uma presença pervasiva e inevitável, um monstro ctônico. A negação completa de acesso aos pensamentos do protagonista, the kid, os aspectos de romance histórico (assustador saber da existência de facto da Glanton Gang e, mais ainda, da possível existência de fato do Juiz Holden), além das sugestões de sobrenatural em tudo que cerca o demoníaco Juiz.

Vale também dizer que o Kid me lembrou ainda um pouco do Sargento Getúlio, mas não exatamente pelo senso de dever com o líder, que o cowboy não tinha nenhum, mas pelo certo Areté do faroeste, em meio a toda violência e covardia que a gang espalhou pelo sudoeste americano e norte do México. Sua relação com Toadvine e depois com Tobin. Seus movimentos na dança do Juiz, esse Arkón do deserto, certamente eram diferentes.

Muito impactante.